Já ouviu falar de “codependência afetiva”? Este é um tipo de dependência doentia que podemos estabelecer com as pessoas, especialmente as mais próximas na família.
Uma pessoa que é codependente ou dependente afetivamente tem dificuldade de viver relacionamentos saudáveis com os outros e com ela mesma. E isto causa muita tensão na vida pessoal e nas relações. No relacionamento codependente existe importante dificuldade de conversas produtivas nas quais os assuntos tensos seriam confrontados e se buscaria uma solução. Falta qualidade de comunicação honesta, um pode ser muito sensível, e o outro pode ser autoritário(a), fechado(a).
Uma grande parte de pessoas com codependência afetiva vem de famílias complicadas nas quais havia um tipo de dependência emocional doentia. O codependente cresceu numa família em que havia importantes problemas de comunicação afetiva, e se tornou alguém com esta mesma dificuldade, alguns com muito bloqueio da expressão de sentimentos, sem saber colocar limites, permitindo abusos sem se proteger, não sabendo reivindicar coisas para si, etc.
Codependentes podem ter sido crianças que cresceram num ambiente com limitações importantes em viver amor, proteção (sentindo-se sozinhas), aceitação (com excesso de críticas depreciativas), e falta de justiça na família. Sofreram abusos ao viver com pais ou cuidadores com muitas exigências e constante crítica. E este tipo de funcionamento familiar produz sintomas como autodesvalorização, auto exigência (perfeccionismo), dificuldade em saber quem é, tendo, assim, uma identidade fraca. Surge excessiva preocupação com o bem estar do outro, e o assumir responsabilidades que outra pessoa deveria levar. Daí os codependentes se tornam focados na vida do outro e se deixam de lado.
O codependente acaba se envolvendo com pessoas com dificuldades comportamentais e geralmente se sente responsável pela felicidade e bem estar desta outra pessoa. Pode ficar controlador, querendo resolver todos os problemas da outra pessoa, e manipulador, com forte necessidade de agradar, obsessão para salvar a outra pessoa daquilo que ela deveria assumir. Neste caso, seja o codependente ou a pessoa com quem ele(ela) se uniu com laços afetivos fortes (esposo, esposa, etc.), pode crer, consciente ou inconscientemente, de que o bem estar pessoal ou felicidade depende do outro, daí quer encontrá-la sempre fora de si mesma, o que, claro, gera muito problema nos relacionamentos.
Para vencer a codependência afetiva o primeiro passo é reconhecer que ela existe no comportamento. É muito importante entender que você não poderá curar uma outra pessoa disso. É ela que terá que tomar alguma atitude para melhorar e superar o problema. E isto pode ser difícil porque a tendência é a pessoa dependente afetivamente acreditar que o problema está na outra pessoa que não a faz feliz como ela desejaria e com isso pode insistir em que o outro tem que supri-la de todas as necessidades, sem avaliar se está sendo razoável, coerente, equilibrada ou não.
É comum, por exemplo, um familiar de alcoólico (pode ser outra compulsão ou a dicção) se sentir culpado(a) pelo comportamento alcoólico do outro. E com isso pode se sentir na responsabilidade de salvar o outro das consequências do beber sem controle. Esta atitude atrapalha, na verdade, o alcoólico, e sobrecarrega o familiar. Por quê? Porque o dependente químico (pode ser dependente de “romance”, de compras, de comida, etc.) vai se “escorar” na pessoa que o “salva” de situações embaraçosas devido ao seu vício, e assim não aprende a assumir a responsabilidade na vida por suas escolhas não saudáveis. E, por outro lado, o familiar que fica “salvando” o tempo todo pode se tornar uma pessoa chata e acaba se estressando por tentar fazer o impossível: mudar a outra pessoa.
Por isso é ensinado, no caso do alcoolismo, e por extensão para outros problemas de compulsão, que o familiar da pessoa viciada precisa pensar em 3 “c”: Não causei isso. Não posso controlar isso. Não posso curar isso. Isso o quê? O problema do comportamento adictivo, compulsivo ou vicioso da outra pessoa.
Se você se sente uma pessoa codependente, sua recuperação pode começar ao você dar passos concretos para cuidar bem de si mesmo, ao passar a ser amoroso (a) consigo também. Comece a pensar que você tem o direito de ter uma vida melhor, sem tensões desnecessárias. Isto não significa que tenha que se separar da pessoa com quem convive. Mas significa que você precisa priorizar buscar resolver seu lado doentio, codependente, identificando quando ele ocorre e escolhendo um comportamento melhor, saudável, independentemente do comportamento da outra pessoa. Há grupos que ajudam, como o Al-Anon, Nar-Anon, Codependentes Anônimos, Neuróticos Anônimos, além de psicoterapia com profissional em saúde mental.
por Dr. Cesar Vasconcellos de Souza.
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