A espiritualidade e saúde

Espiritualidade pode ser entendida como o conjunto
de crenças que traz vitalidade e significado aos eventos
da vida. É a propensão humana para o interesse pelos
outros e por si mesmo. Ela atende à necessidade de en-
contrar razão e preenchimento na vida, assim como a
necessidade de esperança e vontade para viver(1).
A espiritualidade pode ser forte em pessoas de di-
ferentes religiões, bem como em pessoas com crenças
pessoais que não se encaixam em uma religião formal.
No sentido oposto, uma pessoa pode ter uma religio-
sidade forte (freqüentando cultos regularmente), mas
ter uma espiritualidade pouco desenvolvida (por não
vivenciar estes aspectos em seu interior).
A associação entre espiritualidade e saúde está do-
cumentada em inúmeras pesquisas científicas. Os pri-
meiros trabalhos nessa área começaram a ser feitos
nos anos 1980 e vêm evoluindo em todo o mundo. Há
evidências de que pessoas com espiritualidade bem de-
senvolvida tendem a adoecer menos, a ter hábitos de
vida mais saudáveis e, quando adoecem, desenvolvem
menos depressão e se recuperam mais rapidamente.
Para muitas pessoas, a espiritualidade é uma fon-
te de conforto, bem-estar, segurança, significado, ideal
e força. Quando um indivíduo se sente incapaz de en-
contrar um significado para os eventos da vida, como a
doença, ele sofre pelo sentimento de vazio e desespero.
Porém, a espiritualidade oferece um referencial positi-
vo para o enfrentamento da doença, e ajuda a suportar
melhor os sentimentos de culpa, raiva e ansiedade.
Muitos pacientes usam suas crenças para lidar com
suas doenças. A cura pode ser influenciada pelo reforço
positivista do paciente, e este efeito pode ser tão impor-
tante quanto os efeitos do tratamento clínico.
A espiritualidade proporciona crescimento nos
vários campos do relacionamento: no campo intra-
pessoal (consigo próprio), gera esperança, altruísmo
e idealismo, além de dar propósito para a vida e para
o sofrimento; no campo interpessoal (com os outros)
gera tolerância, unidade e o senso de pertencer a um
grupo; no campo transpessoal (com um poder supre-
mo), desperta o amor incondicional, adoração e cren-
ça de não estar só.
Tais atitudes podem mobilizar energias e iniciativas
positivas, com potencial para melhorar a qualidade de
vida da pessoa. Pessoas espiritualistas tendem a ser fisi-
camente mais saudáveis, têm estilos de vida mais bené-
ficos e requerem menos assistência médica(2).
Observou-se uma relação entre envolvimento es-
piritualista e vários aspectos da saúde mental, com
mais sucesso para adaptação ao estresse. Em muitos
estudos, a espiritualidade bem desenvolvida foi consi-
derada um fator protetor para evitar sofrimento psico-
lógico, suicídio, comportamento delinqüente e abuso
de drogas e álcool(3).
É sabido que indivíduos com envolvimento espiritu-
alista tendem a enfrentar situações adversas com mais
sucesso, e que isto está associado à remissão mais rápi-
einstein: Educ Contin Saúde. 2008, 6(3 Pt 2): 135-6136
da de depressão. Em pacientes internados deprimidos,
foi constatado que aqueles com uma forte espiritualida-
de permaneceram menos tempo no hospital.
A espiritualidade colabora para a melhora da saúde
graças a vários fatores. Há um melhor estado psicoló-
gico (por trazer esperança, perdão, altruísmo e amor)
e, conseqüentemente, melhor estratégia para lidar com
problemas e redução do estresse. Isto gera equilíbrio
das funções orgânicas controladas pelo sistema nervo-
so, como a produção de hormônios e a imunidade.
Outras possíveis explicações de como a religião
pode afetar a saúde incluem:
•     respeito ao corpo, pregado por muitas religiões (ge-
rando melhor nutrição e hábitos de vida);
•     melhor estado psicológico (por trazer esperança,
perdão, altruísmo e amor);
•     otimização de vias psiconeuroimunológicas, psico-
neuroendócrinas e psicofisiológicas;
•     melhor estratégia do lidar e redução do estresse.
As doenças relacionadas com o estresse, especial-
mente as cardiovasculares (hipertensão arterial, infarto
do miocárdio, derrame, entre outras), parecem ser as
que mais se beneficiam dos efeitos de uma espiritua-
lidade bem desenvolvida. Entre os numerosos estudos
sobre o tema, citamos duas pesquisas brasileiras em pa-
cientes com câncer:
•     em mulheres com câncer de mama submetidas à
mestectomia, a religiosidade atuou como fator de
proteção contra depressão no pós-operatório(4).
einstein: Educ Contin Saúde. 2008, 6(3 Pt 2): 135-6
•     nos pacientes com câncer, a prática da prece corre-
lacionou-se significantemente com a escala de saúde
geral e de funcionalidade; os autores recomendam
que esta prática não seja desencorajada(5).
Como conclusão, a associação entre espiritualida-
de e saúde está documentada em inúmeras pesquisas
científicas, pois a espiritualidade contribui para a me-
lhora da saúde graças a vários fatores. Muitos pacien-
tes usam suas crenças para lidar com suas doenças e
este reforço positivista pode influenciar na cura do
paciente. Atualmente, grandes hospitais gerais no
Brasil e no exterior têm oferecido esta abordagem,
com resultados satisfatórios.

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